sábado, 14 de maio de 2011

RELATO DE UM ZELADOR E UMA ZELADORA DE SANTO




Somos adeptos do espiritismo a mais de 45 anos, sendo que eu com mais tempo do que minha esposa, somos casado a 37 anos, somos um casal que sempre soubemos o que queremos.
Depois de frequentar e trabalhar em vários terreiros, resolvemos que era melhor termos a nossa casa, pois somos daqueles que não tentamos mudar a casa de ninguém, pois o que mais existe por aí, é gente, ou seja, algumas pessoas que se dizem médium, tentando mudar terreiro dos outros.
Na nossa casa já apareceu gente de todas as qualidades, pessoas que chegam com a cara mais limpa e dizendo que adoraria ficar na nossa casa para ajudar, a fazer muita caridade e, nós acreditamos.

Com o passar do tempo elas iam deixando cair à máscara.
Queriam nos fazer de empregados, ou seja, se achavam os donos do pedaço, os espertos e até nos prometiam ajudar nas despesas do terreiro.

Quando resolvemos abrir o terreiro, fomos consultar o Pai Benedito e ele nos avisou que não aceitasse nada de ninguém, pois mais tarde teríamos problemas.
O mesmo falou ume ERE chamado Sidney e um EXU chamado Zé Pilintra.
Ainda bem que recebemos esses avisos, pois com tempo a coisa foi mudando.
Vou citar alguns casos feitos por essas pessoas mal informadas sobre o que é espiritualidade.
Tinha um médium que trazia velas de aniversario e usava as velas do terreiro e ainda falava na maior cara de pau que as velas não eram tão pequenas, mais usava as da casa e não a que ela trazia.

Quando a Mãe da Casa pedia pra ela lavar um copo, ela usava luva pra não estragar as unhas.
O filho dela já bem grandinho, simplesmente dava pedrada nos bichos do sitio, matou um ganso e vários pintinhos, quebrou telha da casa do caseiro, quebrou as pernas de duas galinhas, respondia mal aos caseiros, arrancava as frutas verdes, aprontava mesmo, quando a mãe de santo reclamava, a resposta era que ele era uma criança.
O pai do garoto que era um consulente, reclamava sempre da comida que era servida no jantar após a gira, teve um dia que estava frio e a janta era peixe, ele falou que aquele dia era dia pra costela com mandioca e não de peixe.
Já mandava nos caseiros de todas as formas, pagar o salário do caseiro, nada. Quando saiu, pediu um pedaço de fio, mais ou menos um metro, que ele tinha levado.
Nunca pedimos nada pra ele e eu não sabia que ele tinha emprestado esse metro de fio.
A filha so chegava de ressaca, quando eu perguntava se ela tinha bebido, com a cara mais lambida, dizia que não, pegava uma coca cola e ficava no sol esperando a gira começar, nunca pegaram numa vassoura para ajudar a Mãe de Santo a varrer o terreiro.
Essa filha deles com mais ou menos uns oito meses no santo, já fazia coisa mirabolantes, levava uma mini champanhe para sua entidade, tomava e ainda tomava outra maior da casa.
Nesse tempo tinha uma médium com mais tempo na espiritualidade, com muita firmeza no chão, acabou caindo no papo dessa médium que sabia beber e como adorava farra.
A mais nova santo acabou levando a outra pra farra e acabaram ficando super amigas, a ponto de chamarem uma a outra de “prima” pois se completaram, uma adorava farra, a outra, uma tremenda mentirosa, se tornou uma família.

Só que esqueceram que estavam na casa dos outros e quando foram para o nosso terreiro esqueceram de perguntar quem era o dono e quem protegia a casa.
Chegou a um estado que uma delas dizendo que estava com um EXU, deu um recado pra outra que estava gravida.

O recado foi que a criança tinha que ter o nome do cavalo e que o cavalo tinha que ser a madrinha dela.
Acredite EXU pedindo isso, o pior foi que a médium fez tudo direitinho.
Tem mais, essa que estava grávida, não se concentrava mais, ao ser indagada pela zeladora, a resposta foi que tinha entrado num acordo com as entidades e não iria incorporar mais, resumindo, foram mandados todos para fora do terreiro com direitos a levar tudo que trouxeram.
Teve médium que foi trabalhar na nossa casa e levou com ele consulentes que só sabiam levar pra nossa casa problemas que não tinham soluções do jeito que eles queriam e, lá eles pagaram e muito mais, pelo que sabemos não resolveram nada.
No nosso terreiro não vale dinheiro e nunca vai valer.

No nosso terreiro, só fazemos festa para “Cosme e Damião”, pois bem, toda vez pedimos pro médiuns trazer algum tipo de doce, alguns foram embora sem nenhuma explicação e alguns que ficaram traziam doces mais tinham que levar saquinhos para distribuir na sua rua, davam com uma mão e tiravam com a outra, pois vários médiuns tinham manias de falar com os caseiros como se eles fossem empregados deles, faziam eles até de babá, pediam pra fritar ovos, porque aquel comida não era de agrado deles, exigiam café, água e até comida, pois não tinham almoçado, chegavam perto da hora da gira começar e ainda ia comer, tinha uns que na hora do intervalo, iam na casa de baixo e jantavam e voltavam e no final da gira comiam de novo.
Tinham uns que apelidei de a quadrilha, pois aonde ia um, os outros acompanhavam também, não duraram muito na casa e hoje em dia ficam pulando de terreiro em terreiro, pois quando somos convidados para visitar algum terreiro, lá está a quadrilha, todos junto, prontos pra aprontar. Ainda não caíram na real pois carregam com eles, os zombeteiros, os brincalhões, não firmam em casa nenhuma, adoram beber e falar besteira, tentam fazer festa em todos os lugares que vão.
Só fazemos homenagem pra entidades no terreiro, no dia de cada um, como falei, festas só de Cosme e Damião. As fofocas eram muito grande, na minha frente e da Mãe de Santo, eram uma pessoa, por trás, eram outras. Procurar aprender não davam importância não.
Todos que saíram de nosso terreiro, tentaram mudar ou mandar mais, se deram mal.
Todos hoje em dia falam que queriam ensinar, queriam mostrar o que é certo e o que é errado, que dedicavam aquele sábado ao terreiro, mais na verdade no dia de limpeza, só iam quando tinham almoço, eu e a mãe, chegamos sempre mais cedo e somos os últimos a sair, todos ajudaram muito, mais foi com a boca, quando não estavam comendo, estavam fazendo fofocas.

Em relação a minha conduta e da zeladora, nunca pedimos nada a ninguém, não devemos nem favor também, trabalhamos por amor a religião, por fidelidade as entidades e por agradecimento, não medimos esforços e não ficamos falando que não fomos passear ou a um aniversario para estar ali, muitos faziam isso.
Graças a nosso Pai OXALA e todas as entidades, foram procurar outro lugar para se lamentarem, foram pra alguma igreja, algum terreiro ou viraram mães de santo ou pai de santo, pois isso eram alguns dos sonhos deles.
Hoje temos poucos médiuns na “Tenda de Xangô” que é a nossa casa, são pessoas de confiança, pessoas que trabalham com carinho, dedicação e respeito por nós e nossa casa.
Todos que aprontaram, fofocaram e pensaram que deral algum prejuízo pra nossa casa se enganaram e muito. Pois graças a minha linha, eu sempre estive a um passo na frente de todos eles, eu e a mãe, sempre estivemos unidos só ficamos observado os comportamentos de todos.
Com eles eu aprendi algumas coisas que se deve fazer e o que não se deve fazer quando estiver na casa dos outros, pois na minha, não fazemos o que não se deve e quando erramos tentamos acertar logo em seguida.
Hoje em dia ficam falando mal do terreiro, julgando os que ficaram mais tudo isso é a inveja que os consomem, pois nossa casa esta de pé e continuara enquanto as entidades quiserem.
Aos inconformados com a espiritualidade, sempre tenho uma palavra pra eles, que um dia encontrem seus caminhos, mais pra isso acontecer, tem que ter fé, muita fé mesmo, não é falando mal dos espiritas que terá seu problema resolvido, lembre-se que um dia você frequentou um terreiro, seja como médium, ou consulente e que sentiu um gostinho de ter ao seu lado pessoas boas e de consideração por você, por uns tempos teve pessoas de confiança a seu lado e você por orgulho, vaidade, olho grande, inveja e você ser uma ou um fofoqueiro acabou a amizade.
Procure pensar e analisar quando você falar de um terreiro não seja ingrato ou ingrata, pois você só trará sofrimento pra você mesmo.
Tenha orgulho de dizer que um dia você fez parte da corrente daquele terreiro e foi uma experiência nova na sua vida, mesmo que tenha passado por outra casa.

Pense porque não ficou, talvez ali foi seu lugar por algum tempo mais você um dia vai encontrar o seu lugar.
Pense também, que ao aprontar num terreiro, você sai impune deixando pra trás só o que você aprontou, não é assim, você leva o que trouxe principalmente a energia ruim e os espíritos sem luz que você carrega consigo e não deu luz ou rezou por eles, não fique levando o nome das pessoas que um dia você tinha amizade e acabou por sua causa, as entidades de outro terreiro, isso só faz você sofrer mais e a sua cabeça ficara tonta de tanto pensar que vai dar certo pra você, você deve pensar que as entidades tem sua própria energia e seu próprio julgamento e fazer o mal não é só porque você quer.
Hoje somos zeladores, mais já limpamos muito chão de terreiro, lavamos muito copos, acendemos muita vela, já fomos cambonos, já raspamos borra de vela, já ficamos de joelho muito tempo, já ouvimos muito pito de entidades, já fomos chamados muito a atenção por mãe e pai de santos, por isso o que pedimos na nossa casa, não é nada de mais.
Eu e a Mãe de Santo, somos muitos curiosos, adoramos visitar outros centros, mais vamos lá, não para sermos reverenciados, na maioria das vezes passamos despercebidos, somos também uns estudiosos do espiritismo, não importando a linha, criamos um hábito de observar, mais não pra depois sair falando e, sim para conhecer e aprender e relembrar alguns rituais, mais tem coisas que vemos e nos faz pensar muito. Por que existe muita submissão dentro dos terreiros, por que médiuns são humilhados e ameaçados por pai de santo ou mãe de santo e cobrados as suas mensalidades atrasadas publicamente, continuam no terreiro e até às vezes alguns médiuns chegados ao dono da casa e dizendo que estão com entidades, ameaçam os médiuns e também os consulentes, alguns médiuns fazem de suas entidades reis ou rainhas de seus terreiros, é minha teoria.
Temos visto em certos centros, um EXU dito “guardião” ter um cambono pra fazer tudo, que ele quer é ficar limpando tudo o que esse Exu faz e até diz pros consulentes quando o EXU vai voltar a essa casa, um outro só pra trocar os copos de bebidas e acender os charutos de primeira qualidade e outro pra ficar ajeitando sua capa e até trazendo a poltrona pro EXU ou Pomba Gira sentar.

Me pergunto mais tarde, será vaidade do médium, será que ele realmente está vibrado por uma entidade ou por um Kiumba zombeteiro, duma coisa tenho certeza, é uma dúvida sobre outra.
Tem uma situação que uma mãe de santo estava sentada lado a lado com uma filha de santo já confirmada e consagrada. Quando veio uma senhora dizendo que estava com uma pomba gira e disse que essa filha estava no inferno e o seu carro estava a caminho e que esta estava ali pra pedir perdão, não dizendo porque e de quebra ameaçou a outra moça que estava atrás dessa filha. A mãe de santo educadamente falou que ela estava enganada, pois aquela filha tinha melhores pretensões na sua vida e perguntou também que carro e esse porque ela achava que a menina tinha vindo pedir perdão e por que ela estava no inferno. Ela só ficou olhando com ar de ameaçador, foi então que a mãe de santo se intensificou como mãe de santo da garota, ela deu uma risada e afastou e logo em seguida “acredito eu” seu Kiumba brincalhão subiu, a garota atrás da mae de santo ficou apavorada e pediu mais informação pra ela, pois a zeladora dessa casa estava cercada por pessoas que diziam estar incorporadas e não atendeu a essa consulente, ficamos sabendo que a menina foi ameaçada por que esqueceu a bebida de primeira qualidade que essa “suposta” pomba gira tinha pedido.
A mãe de santo que estava na assistência falou que a garota acendesse uma vela e rezasse e assim que pudesse, procurasse a dona da casa pra pedir explicação, a menina foi embora apavorada.
Saí. Faço uma pergunta a mim mesmo por que pomba Gira ditas de luz escravizam e ameaçam pessoas. Acho que todos os médiuns devem cuidar para suas entidades, tenham bastante luz pra que sejam educados e respeitem a todos, pois nenhuma entidade deve vir num terreiro com arrogância e desrespeito, se isso acontece algo está errado, outra coisa, não existe entidades mais ou menos forte do que outra.
Existem sim entidades com mais experiência e médium mais firmes na formas de trabalhadas diferentes de trabalhar mesmo sendo da mesma falange.
No nosso terreiro somos responsáveis por tudo que ocorre, devemos sempre ficar atentos as “Filhos de Santos” da corrente, procurar sempre ajudar e corrigir deslizes, tratar todos com igualdade, não pode haver tratamento diferente, somos um exemplo positivo e devemos sempre dar bom exemplo para todos.
Os médiuns iniciantes não devem pensar que os zeladores são bobos, pois mais cedo ou mais tarde eles vão mostrar que não o são e, sim são muitos tolerantes com os irresponsáveis.
O verdadeiro sábio não é aquele que guarda para si tudo que sabe, mais sim, aquele que passa tudo que sabe.

Mais enquanto você não ouvir certas respostas, é porque você não está passando confiança para quem quer ensinar, aguarde chegar a sua hora, ter paciência também é um dom de sabedoria.
Não ensinamos aos mais novos e não explicamos para nossa assistência os significados de certos atos realizados durante os trabalhos, pois quem quer aprender seja seguidor da religião.
Depois de muitos anos peregrinando no espiritismo, comecei a ter pensamentos críticos no que diz a respeito de minha religião.
Observei as mudanças e as invenções descontroladas e os comportamentos absurdos na religião.
Uma coisa sempre me incomodou muito quando vou a um terreiro, a falta de simplicidade.

Quando no espiritismo, pés no chão, uma roupa branca, algumas velas no altar e pronto, o terreiro já estava pronto para funcionar, as entidades sempre presentes, os consulentes atendidos e os médiuns felizes por está ali. Não existiam cursos, como formação de sacerdotes em dois, três anos, nosso aprendizado era dentro do terreiro, ouvindo os dirigentes, as entidades e, também os mais experientes.
O que tenho visto são muitos que inventam rituais, fundamentos beirando ao absurdo, pessoas que procuram noutro terreiro praticas diferentes de onde está misturando tudo.
Vejo pais de santo sendo idolatrados como se fossem santos, deixando a espiritualidade em segundo plano, terreiros viraram passarelas para desfiles de moda ou concursos de fantasias, festa os ORIXAS todos os finais de semana, esqueceram que a homenagem tem o seu maior valor.

Aprendi que quando visitamos um terreiro, devemos saber entrar e sair, somos assistência e nosso lugar é na fila de passe.
Ainda bem que temos terreiro que mantem a tradição, a palavra de um PRETO VELHO, de um ERE, um EXU vale muito, onde um dirigente senta com seus filhos e da explicação e escuta e também tira dúvidas sobre qualquer coisa.
A UMBANDA que pratico e tento ensinar não quer escravos, quer sim pessoas de boa vontade, pessoas que venham com o coração aberto, pessoas que entendam que não devem vir para UMBANDA pensando em melhorar de vida, mais sim pessoas que entendam que ajudando a melhorar um pouco que seja este mundo, vão com certeza receber sua parte nesta melhora.


Na minha linha que é UMBANDA, as entidades não nos tratam como empregados ou meros cavalos, eles nos tratam como amigos de jornada, não nos fazem exigências absurdas e respeitam os nossos limites e sempre procuram trazer prazer e alegria para dentro de nosso terreiro.


Nós não vivemos da religião ou para a religião.

Vivemos sim, a religião em todos seus limites.

RITA DE IEMANJA


ELIAS DE XANGÔ

Zeladores da TENDA DE XANGÔ

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